Rota Carmelita
Uma viagem inesperada
Verão de 2021. Farto de confinamento e de COVID-19, decidi aproveitar o ínicio das férias para ir num fim de semana a Fátima. O caminho para Fátima nunca me despertou grande interesse, talvez pelos relatos de conhecidos que o fizeram, ou pelas notícias de acidentes com peregrinos, sempre associei o percurso a estradas de alcatrão a passar em centros urbanos e por esse motivo nunca ponderei fazer-me à estrada.
O que me fez mudar de ideias? A vontade de conhecer a Rota Carmelita. De facto, a ideia inicial era ir a Santiago de Compostela pelo caminho da Costa, mas como só tinha dois dias disponíveis alterei os planos e rumei ao Santuário de Fátima desde a Sé do Porto.
O caminho até Coimbra,
Sábado, 07h00,
arranco da Sé do Porto. O sol, ainda baixo, não aquecia e estava uma
temperatura ótima para pedalar. Fiz-me à estrada em direção à ponte Luís
I para atravessar o Douro e seguir as setas azuis. Não é muito fácil
seguir as setas dentro das cidades. Já senti essa dificuldade em
anteriores peregrinações a Santiago de Compostela mas a cor azul das
setas de Fátima ainda dificultam mais a orientação. De qualquer modo,
tinha o track do percurso no GPS da bicicleta, no relógio e no telemóvel
para esclarecer qualquer dúvida que por vezes aparecem.
Infelizmente, todos os meus preconceitos em relação ao caminho de Fátima se confirmaram. À exceção de um troço na Serra de Canelas, em Gaia, e um ou outro trilho no meio de eucaliptos a chegar a Coimbra, todo o percurso se fez em estradas secundárias que ligavam aldeias e cidades entre o Porto e Coimbra. Não encontrei grandes motivos de interesse para um amante da natureza como eu, houve até alturas do dia em que a motivação falhou e tinha mais vontade de voltar para trás no primeiro comboio que me aparecesse do que continuar a aventura.
De cidade em cidade, de café em café, com paragens para reabastecer, lá me fui aproximando da cidade dos estudantes. Esta primeira etapa doeu, saiu-me do corpo e, principalmente, da cabeça! Não gostei. Foram perto de 140kms a pedalar, com temperaturas a rondar os 30ºC por caminhos que não são a minha praia, que não me despertavam interesse.
Estava mais otimista com o dia de amanhã mas no meu pensamento ainda pairava uma possível desistência no caso de o caminho ser parecido com o que tinha percorrido até então.
A Rota Carmelita
A Rota Carmelita é um percurso de peregrinação que pode ser percorrido de bicicleta ou a pé, desde o Carmelo de Santa Teresa em Coimbra até ao Santuário de Fátima. São 111kms que percorrem os concelhos de Coimbra, Condeixa-a-Nova, Penela, Ansião, Alvaiázere e Ourém.O percurso
O dia começou bem cedo em Coimbra. Logo aos primeiros radios de sol, dirigi-me ao Carmelo de Santa Teresa para iniciar o caminho. Depois de passar por alguns ex-libris da cidade (Universidade, Sé, Baixa), a rota atravessa o Mondego e segue pela EN1 até Condeixa. Mau! Não era nada daquilo que tinha imaginado, estava a andar muito em alcatrão. À saída de Condeixa-a-Velha, passamos mesmo ao lado das ruínas romandas de Conimbriga por um estradão de terra batida e aí sim, começa a verdadeira rota das carmelitas.
Seguem-se quilómetros e quilómetros de trilhos em terra batida com alguns single tracks bem interessantes. Praticamente todo o percurso é ciclável, existe um ou outro ponto mais técnico onde a prudência manda desmontar mas para gente habituada ao BTT não existem grandes dificuldades.
Esta rota tornou o dia muito mais prazeroso que o anterior. A estrada de alcatrão foi substituida pela terra e as casas e prédios deram lugar a manchas imensas de carvalho e oliveiras. Os quilómetros passavam sem estar a olhar constantemente para o GPS ou para o relógio. Nunca tinha estado na Serra de Sicó e fiquei bastante agradado com o que vi. Só faltou um riacho para refrescar. Ainda passei em alguns mas estavam praticamente secos o que é normal, uma vez que fiz o caminho a meio do Verão e com temperaturas bastante altas, nada aconselháveis para este tipo de atividade.
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